sábado, 2 de janeiro de 2010

ESCLEREOSE MULTIPLA: O MISTÉRIO DA SUBSTÂNCIA BRANCA


Não é nome de filme ou livro, mas tem muito a ver com a esclerose múltipla, uma doença crónica associada à substância branca do sistema nervoso e de cujas causas se conhece ainda pouco.

Calcula-se que haja em Portugal cerca de cinco mil doentes, mais mulheres do que homens, numa proporção de três para dois. Em todos a doença interfere com a capacidade do sistema nervoso central de controlar funções como a visão, a locomoção e o equilíbrio.

E tudo tem a ver com a mielina, uma substância branca que envolve as fibras nervosas e que não funciona correctamente nas pessoas que sofrem de esclerose múltipla. Vejamos como tudo acontece.

O sistema nervoso central é constituído pelo cérebro e pela espinal medula, funcionando como uma espécie de computador ou de central de comandos. É através dele que conseguimos captar as mensagens do mundo que nos rodeia - mensagens tão básicas como ouvir, ver, cheirar, saborear e sentir. É também ele que tem a responsabilidade de coordenar as nossas actividades, das conscientes às inconscientes - andar, falar, pensar, recordar...


Fazemo-lo de uma forma reflexa precisamente porque o sistema nervoso central se encarrega de enviar para as diferentes partes do nosso corpo as respectivas mensagens eléctricas e químicas, de que os nervos são os mensageiros. São eles que compõem o sistema nervoso periférico: a eles se deve a nossa comunicação interna na forma de impulsos eléctricos que, uma vez interpretados, nos permitem realizar cada acção e coordenar as diversas funções necessárias para essa acção.


No sistema nervoso existem células nervosas, de uma tonalidade cinzenta, ligadas entre si e ao resto do corpo por fibras nervosas chamadas axónios. Através deles são emitidos os sinais eléctricos que permitem a comunicação intracelular. A envolvê-los têm uma substância gorda esbranquiçada, a mielina, que funciona como uma camada protectora e de isolamento e que acelera a transmissão da informação do cérebro ao resto do corpo ou de uma parte específica do corpo ao tal computador central.

Quando se sofre de esclerose múltipla há algo de errado com esta substância branca: numa primeira fase, instalam-se pequenos focos de inflamação, numa fase mais avançada vai começando a desfazer-se. Esta é a diferença em relação às pessoas saudáveis. É à volta dos vasos sanguíneos que alimentam o sistema nervoso que ocorre a inflamação, fazendo com que o sangue liberte células e fluidos e, em consequência, causando edema. É então que se inicia o processo de perda progressiva de mielina, causando dificuldades na passagem da informação através das fibras nervosas.

Quando a inflamação desaparece, o sistema nervoso pode ser reparado e a mielina reconstituída. Mas acontece, em muitos casos, que essa recuperação não é completa, podendo ficar no sistema nervoso uma espécie de cicatriz - a esclerose.

É o que se passa quando a inflamação atinge uma área mais vasta, desenrolando-se aqui também um processo gradual de desmielinização - a camada de substância branca é atacada pelas células inflamatórias, ficando cada vez mais finas e tornando cada vez mais difícil o seu papel de transmitir os impulsos eléctricos. Nos casos mais sérios, pode ocorrer mesmo um bloqueio dessa informação e a destruição de fibras nervosas.

Perder o controlo do corpo

A esclerose múltipla afecta pessoas de todas as idades, mas é normalmente entre os 20 e os 40 anos que se manifestam os primeiros sinais.

A partir daí a evolução da doença é muito variável, dependendo da gravidade da inflamação e do ritmo a que a mielina se deteriora. Há sintomas que vão e vêm, sem razão aparente: são os surtos, seguidos de períodos de remissão. Nalguns casos, há um regresso completo ao estado anterior, noutros há sintomas que persistem durante várias semanas. E há ainda situações que se caracterizam por uma progressão gradual dos sintomas, com uma perda igualmente gradual do controlo sobre as funções do corpo, sem que se observem melhorias.

Perder o controlo do corpo é, de facto, a característica externa mais evidente da esclerose múltipla. Em consequência da dificuldade ou bloqueio na passagem da informação em determinados circuitos nervosos, há funções que vão sendo afectadas - a visão, o equilíbrio e a locomoção são das funções mais prejudicadas.

Com frequência ocorre inflamação do nervo óptico, o que causa visão turva e embaciada, mas também dor, sobretudo quando se roda o olho. Os dois primeiros dias são mais críticos, tendendo a inflamação a desaparecer após várias semanas, embora a recuperação não seja completa. É por isso que, num quadro de stress, de cansaço ou de febre, a visão pode turvar-se novamente, sem que isso corresponda a novo surto de esclerose múltipla.

A função motora é uma das principais vítimas desta doença, o que se explica pelo facto de o sistema nervoso conter um grande número de fibras que controlam os movimentos.

O que acontece é que há uma perda da força muscular nos braços e nas pernas, a qual pode oscilar entre dificuldade em mover os dedos até à paralisia. Pode mesmo não haver possibilidade de recuperação. Os membros inferiores são mais afectados, pelo que é comum o recurso a auxiliares de marcha (uma bengala, muletas ou até cadeira de rodas).

Agarrar pequenos objectos pode ser uma tarefa árdua para os doentes escleróticos: este cenário significa que a inflamação se instalou no cerebelo, a parte do cérebro que controla o equilíbrio e a coordenação de movimentos. Resultado: as mãos tremem, os passos são atabalhoados.

E quando são danificadas as fibras nervosas que comandam o tacto é como se houvesse uma sensação de encortiçamento nas pernas, parecendo que se caminha sobre algodão. Formigueiro, picadas, corpo dormente são outras das consequências possíveis.

Entre os músculos afectados pontuam os da bexiga e dos intestinos, dois órgãos que estes doentes têm dificuldade em controlar. Assim, sentem com frequência aquilo a que se chama urgência urinária - a necessidade de expelir a urina aos primeiros sinais de que a bexiga está cheia. E, como têm pouca mobilidade, podem sofrer também de obstipação.

A dor acompanha a esclerose múltipla: nos músculos das costas e das pernas, devido à dificuldade em caminhar, nas pernas e nos braços devido à contractura dos respectivos músculos, bem como na face.

Fadiga, dificuldades em pensar e em recordar, alterações de humor e disfunções sexuais completam este quadro de sintomas da esclerose múltipla.


Viver com a doença é possível

A esclerose múltipla é uma doença crónica, o que significa que é para a vida. Não tem cura, mas não é fatal.

O tratamento existe e permite lidar com os surtos, embora não faça regredir a doença. Entre os medicamentos mais usados incluem-se os corticosteróides, devido à sua capacidade para combater a inflamação.

Têm, no entanto, efeitos secundários e não são adequados a todos os surtos.

Há mesmo alguns que requerem apenas repouso e paciência até que os sintomas diminuam.

Mais recentes são os interferões, proteínas libertadas pelo corpo quando ocorre uma inflamação e que contribuem, nomeadamente, para reduzir a inflamação. Diminuem, pois, a probabilidade de surtos, bem como a gravidade dos mesmos, além de atenuarem os danos na mielina.

O tratamento passa também por actuar sobre os sintomas específicos da esclerose múltipla, tais como o cansaço, a rigidez muscular, as alterações do tacto, as disfunções urinárias ou os problemas intestinais.

E é complementado com alguns cuidados que os doentes podem adoptar.

Assim, o repouso é essencial, de forma a poupar os músculos. Quem sofre de esclerose múltipla sabe que há dias em que qualquer esforço, por mínimo que seja, é sentido como hercúleo. E sabe também que a exaustão, tanto física como mental, pode contribuir para agravar o seu estado. Estes doentes devem, pois, ter consciência das suas limitações e não tentar ultrapassá-las.

Por ser uma doença de evolução imprevisível, a esclerose múltipla é geradora de muita ansiedade. Não raro os doentes deixam-se cair em depressão ou tornam-se intolerantes e agressivos para com os próximos.

Não raro também fogem do convívio social, isolando-se, porventura envergonhados pelo estado de dependência em que vão ficando.

A instabilidade comportamental mina as relações familiares e sociais, conduzindo, por vezes, a situações de um isolamento total. Daí que sejam aconselhados a procurar apoio ao nível da psicoterapia, daí também que as associações que os representam prestem aconselhamento às famílias e demais cuidadores. Pode ser difícil lidar com a esclerose múltipla, mas é possível e desejável não ceder às limitações que a doença impõe.


Fonte: FARMÁCIA SAÚDE

segunda-feira, 22 de junho de 2009

PAPILOMA HUMANO: VÍRUS CAUSADOR DE CANCRO



Prof.ª Doutora Maria Carmo Fonseca

Hoje sabemos que existem vários tipos de vírus capazes de provocar cancro no ser humano. No entanto, este é um conhecimento recente. A título de exemplo, foi na década de 1990 que um conjunto de múltiplos estudos científicos vieram definitivamente demonstrar que o vírus do Papiloma Humano é o causador do cancro do colo do útero.


Quem pela primeira vez descobriu que o vírus do Papiloma Humano estava associado ao cancro do colo do útero foi um médico e investigador alemão chamado Harald zur Hausen, no início da década de 1980, mas a ideia foi inicialmente recebida com grande cepticismo pela comunidade científica internacional.

Passados quase 30 anos, o enorme valor da descoberta de zur Hausen foi justamente reconhecido através da atribuição do Prémio Nobel da Medicina de 2008.


O que são vírus?

Vírus são parasitas intracelulares desprovidos de vida própria. Os vírus só se reproduzem quando infectam uma célula. Cada tipo de vírus tem o seu próprio hospedeiro. Assim, existem vírus que infectam bactérias, outros que infectam plantas e outros ainda que infectam animais, entre os quais o homem.


Quando um vírus infecta uma célula humana

Assim que um vírus penetra numa célula provoca um desvio no normal funcionamento celular. O vírus é como um assaltante que obriga a célula a produzir novos vírus. Uma célula infectada pode dar origem a milhares de novos vírus até atingir um estado de exaustão e morrer. Nalguns casos, a célula infectada comete suicídio, tentando assim travar a propagação do vírus. Noutros casos, mais raros, a célula infectada transforma-se numa célula cancerosa.

O cancro não é uma única doença, mas sim um grupo de várias doenças caracterizadas por um aumento descontrolado do número de células. As células cancerosas proliferam de uma forma anormal, acabando por invadir e interferir com o funcionamento dos tecidos vizinhos. Todos os cancros são causados por alterações genéticas que vão ocorrendo ao longo da vida de um indivíduo. Algumas destas alterações acontecem espontaneamente, outras são causadas por factores do ambiente como, por exemplo, o fumo do tabaco, e outras ainda são causadas por vírus.

Os vírus são responsáveis por 15 a 20 por cento de todas as formas de cancro. Destes, o mais frequente é o cancro do colo do útero causado pelo vírus do Papiloma Humano.

Segue-se o cancro do fígado, provocado pelos vírus da Hepatite B e C, certos tipos de linfoma, causados pelo vírus de Epstein-Barr, a leucemia de células T do adulto, pelo vírus Linfotrópico de Células T Humanas, e o sarcoma de Kaposi causado pelo Vírus Herpes Humano tipo 8.

O cancro do colo de útero é o segundo cancro mais frequente na mulher, a seguir ao da mama. O cancro do colo do útero desenvolve-se sempre em mulheres infectadas pelo vírus do Papiloma Humano. No entanto, só algumas mulheres infectadas desenvolvem cancro.
Existem mais de cem tipos diferentes de Vírus do Papiloma Humano, dos quais cerca de 40 infectam as células dos órgãos genitais. Destes, há aproximadamente 15 tipos capazes de causar cancro. Assim, quando uma mulher está infectada, importa saber de que tipo de vírus se trata.

Para tal faz-se um teste de genotipagem do vírus, ou seja este teste permite diagnosticar não só a existência do vírus HPV, como também identificar o tipo de vírus em questão.


O vírus do Papiloma Humano

Os vírus do Papiloma Humano (VPH) que infectam os órgãos genitais classificam-se em vírus de baixo risco (por exemplo, VPH6 e VPH11) e vírus de alto risco (por exemplo, VPH16 e VPH18), consoante a sua capacidade para causar cancro.

Os vírus do Papiloma Humano que infectam os órgãos genitais são transmitidos por contacto sexual. Por esta razão, as mulheres são infectadas quando começam a ter uma vida sexual activa.

Aproximadamente 20 a 40 por cento das mulheres jovens sexualmente activas são infectadas pelo vírus. Na grande maioria dos casos, a infecção é debelada pelo sistema imunitário e passa completamente despercebida. Mais raramente, a infecção torna-se persistente. Na população mundial, aproximadamente uma em cada 10 mulheres está infectada de forma persistente pelo vírus, sendo a prevalência da infecção variável entre regiões. Exemplos extremos são a Espanha com uma prevalência de 1,4 por cento e a Nigéria com 25,6 por cento. As infecções persistentes dão origem a sinais clínicos facilmente detectados num exame médico. Para além do cancro do colo do útero, as infecções persistentes por vírus do Papiloma Humano de alto risco podem dar origem a cancros na vagina, vulva, pénis, ânus e boca.

Não existe, ainda, nenhum medicamento para tratar a infecção pelo Vírus do Papiloma Humano. Assim, as medidas mais eficazes para evitar o cancro do colo do útero são a abstinência sexual ou a vacinação antes de iniciar actividade sexual. Importa salientar que as vacinas actualmente disponíveis são dirigidas contra os vírus de tipo 16 e 18 (VPH16 e VPH18), em conjunto responsáveis por cerca de 70 por cento dos cancros do colo do útero. Portanto, a vacina não confere protecção total. Por outro lado, a vacina não ajuda as mulheres que já foram infectadas. Por esta razão, é muito importante continuar a fazer exames ginecológicos, tanto as mulheres que nunca tomaram a vacina como as que foram vacinadas. As recomendações internacionais apontam para vacinar aos 12 anos e fazer um exame ginecológico de 3 em 3 anos, a partir dos 25 anos de idade.
Como o VPH provoca cancro
O vírus penetra no epitélio do colo do útero através de fissuras traumáticas e infecta as células da camada mais profunda. Cerca de 90% destas infecções curam-se espontaneamente.
Nalguns casos, raros, a molécula de ácido desoxiribonucleico (ADN) do vírus penetra no genoma da célula infectada e vai, progressivamente, alterar o funcionamento dos genes humanos que controlam a proliferação celular. Em consequência, as células do colo do útero proliferam desordenadamente e invadem os tecidos vizinhos.
Em média, o cancro desenvolve-se 10 a 30 anos depois da infecção pelo vírus. Apenas cerca de 0,8% das infecções dão origem a cancro.

Campanha de Vacinação*

A Campanha de Vacinação Contra Infecções por Papilomavírus Humano (HPV), terá lugar de 27 de Abril a 2 de Maio nas farmácias aderentes. Esta iniciativa é um contributo das farmácias para a prevenção de infecções por HPV e para a luta contra o cancro do colo do útero no nosso País, o segundo tipo de cancro mais frequente na mulher em todo o mundo.

A vacina contra infecções por HPV faz parte do Plano Nacional de Vacinação (PN V), sendo administrada, por rotina, às raparigas que completam 13 anos no respectivo ano civil. Esta vacinação de rotina será acompanhada até 2011 por uma repescagem das raparigas que completem 17 anos, iniciando-se em 2009 com as raparigas nascidas em 1992. As jovens que não se vacinem no ano recomendado para si podem, ainda, iniciar o esquema até aos 18 anos de idade, inclusive.

Na farmácia, esta vacina pode ser dispensada e administrada a mulheres não abrangidas pelo PN V, ou seja, mulheres com 19 ou mais anos, desde que apresentem uma prescrição médica. Excepção para as jovens que completam 18 anos de idade em 2009 (nascidas em 1991) que, por não estarem abrangidas pelo PN V, podem também ser vacinadas na farmácia. Actualmente a vacina está indicada para mulheres até os 26 anos.

A vacina contra infecções por HPV pode adquirir-se nas farmácias mediante prescrição médica. Comprar a vacina e, de seguida, poder contar com a sua administração na farmácia representa mais conforto e conveniência para si. Também é uma garantia de que a temperatura ideal de conservação da vacina se mantém estável desde o momento da sua compra até à administração.

* Campanha disponível em farmácias aderentes.

Artigo elaborado pela Prof.ª Doutora Maria Carmo Fonseca
Directora do Instituto de Medicina Molecular e da Genomed - Diagnósticos de Medicina Molecular, S.A.


Fonte: FARMÁCIA SAÚDE - ANF

segunda-feira, 15 de junho de 2009

TESTE DO PEZINHO: UMA PICADA QUE SALVA VIDAS



Andreia Pereira

Em Portugal, o Programa Nacional de Diagnóstico Precoce tem, actualmente, uma taxa de cobertura de 99,4%. E, embora não seja de carácter obrigatório, o teste neo-natal funciona graças à elevada adesão por parte dos pais. Mas, para se uniformizar a picada do pezinho em todo o território, foi preciso muita teimosia e determinação por parte dos seus impulsionadores portugueses.

Em 1979, quando o Prof. Jacinto Magalhães (médico que "emprestou" o seu nome ao actual Instituto de Genética) se aventurou no rastreio da fenilcetonúria a nível nacional, muitas vozes se ergueram, "chumbando" a iniciativa com o argumento de que Portugal não tinha capacidade para seguir em frente. Mesmo com fracos recursos económicos para adquirir os equipamentos necessários, o até então director do Serviço de Genética Médica do Hospital Maria Pia, Prof. Jacinto Magalhães, e o Prof. Rui Vaz Osório lançaram uma petição no jornal para angariação de fundos.

Vários artistas aderiram a esta causa e, com o dinheiro reunido em leilão, conseguiram comprar os equipamentos que permitiam o diagnóstico da fenilcetonúria: a primeira doença rastreada no âmbito deste programa. "Foi um início à cowboy", ironiza Rui Vaz Osório, coordenador executivo da Comissão Nacional de Diagnóstico Precoce. Dois anos mais tarde, já em 1981, com a obtenção de uma nova máquina, avançou-se para o diagnóstico do hipotiroidismo congénito.

Com perseverança, provou-se que esta causa valia a pena. Aliás, um estudo de impacto económico, elaborado no final da década de 70, indicava que "o Estado tinha encargos 60 vezes superiores com uma criança deficiente, do que se subsidiasse um programa nacional de rastreio", esclarece Rui Vaz Osório, aludindo aos casos de fenilcetonúria e do hipotiroidismo congénito.

Com o advento do Tandem Mass, um equipamento obtido pelo IGM em 2001, conseguem-se diagnosticar, actualmente, 25 doenças com apenas uma gota de sangue, colhida durante o teste do pezinho. E, se o objectivo inicial era evitar os atrasos mentais profundos, provocados pelas duas primeiras doenças rastreadas, hoje em dia já é possível afirmar, taxativamente, que este teste salva vidas. Até porque, como explica o coordenador, "muitas das patologias que se detectam no diagnóstico neo-natal podem conduzir ao coma ou mesmo à morte".


E depois do teste do pezinho...

Francisco nasceu em Junho de 1999. E, como qualquer recém-nascido, foi submetido ao teste do pezinho, um exame de diagnóstico neo-natal realizado, idealmente, entre o terceiro e quinto dias de vida. Embora não tenha coincidido com a data de nascimento, o dia da picada pode ser considerado o primeiro dia do resto da sua vida.

Isto porque, aparentemente, e apesar de nada levantar suspeitas, o arquitecto Rui Barros Silva tomava conhecimento de que o seu filho sofria de uma doença metabólica. O diagnóstico precoce permitiu que esta criança pudesse iniciar o tratamento dietético imediato da fenilcetonúria. Graças ao teste do pezinho, Francisco, 10 anos, tem um quotidiano igual ao de muitas crianças da sua idade. A única excepção é a dieta restritiva, que tem de cumprir à risca para o resto da vida.

Hoje, já fala da doença com todo o à-vontade, mas, quando se recorda dos minutos em que recebeu a notícia, Rui Barros, também presidente da APOFEN (Associação Portuguesa de Fenilcetonúria e outras doenças metabólicas), afirma ter sentido um "abalo". "O primeiro ano foi muito preocupante, porque estamos a aprender a lidar com a patologia", reitera. Valeu-lhe o apoio incondicional de toda a equipa multidisciplinar do IGM, nomeadamente a nutricionista, a quem recorria sempre que surgia uma dúvida.

O caso de Francisco é semelhante ao de 270 meninos e meninas, a quem foi diagnosticada a fenilcetonúria desde a implementação do teste do pezinho em Portugal. E, porque se trata de um defeito genético de uma enzima responsável pela síntese proteica, a comida destas crianças é rigidamente controlada e pesada em balança electrónica. Ao longo de toda uma vida, não se pode relaxar, nem um único dia, na prescrição dietética. Caso contrário, se não houver o cuidado de "banir" os alimentos com elevados índices proteicos da ementa diária, as consequências cerebrais poderão ser irreversíveis a longo prazo.

"Fenil o quê"?

Ao receber o telefonema do IGM, Rui Barros confessa ter ficado um pouco atordoado com a informação que lhe fora transmitida. Admite que, quando foi convocado para uma reunião com Rui Vaz Osório (o médico encarregava-se de esclarecer, pessoalmente, os pais sobre a doença), a língua enrolou-se e mal conseguia pronunciar o palavrão: fenilcetonúria. A cabeça estava repleta de dúvidas. Era uma cascata de perguntas, umas atrás das outras. Afinal, como qualquer pai, só queria perceber como poderia dar o melhor ao seu filho.

"O conhecimento sobre a doença vai-se construindo à medida que se trocam informações com os vários profissionais de saúde envolvidos e com outros pais. E, neste ponto, a importância de uma equipa multidisciplinar centralizada com a qual podem partilhar todas as suas dúvidas faz toda a diferença", refere Dr.ª Carla Maria Carmona, assessora de Psicologia Clínica do IGM.

Logo percebeu que esta patologia resulta de uma desordem genética, em que, devido à ausência ou defeito de uma enzima responsável pelo metabolismo da fenilalanina, esta última acumula-se na corrente sanguínea. E, deste modo, funciona como um "veneno", já que a sua acção vai danificar a bainha de mielina: um invólucro dos neurónios. Com os "ataques" consecutivos da fenilalanina, os neurónios vão sendo, gradualmente, afectados. É esta a justificação avançada pelos especialistas para o aparecimento de danos mentais a longo prazo.

"Se a dieta não for cumprida, desde os primeiros dias de vida, a arquitectura cerebral fica comprometida, porque até aos seis anos o sistema nervoso central está em construção. Os elevados níveis de fenilalanina influenciam, ainda, os neurotransmissores, responsáveis pela actividade do cérebro", fundamenta o Prof. Friedrich K. Trefz, docente da cadeira de Pediatria na Universidade de Tuebingen (Alemanha).

Acontece que, por haver um defeito ou inexistência da enzima PHA (sigla do inglês que, numa tradução livre, corresponde à "fenilalanina hidroxilase"), a fenilalanina (um aminoácido) não é metabolizado no fígado. Quer isto dizer que, na ausência de uma dieta hipoproteica, a sua concentração no sangue atinge níveis acima do desejável.

Máximo controlo

Até aos cinco anos de Francisco, Rui Barros tentou arranjar uma estratégia para que o filho nunca se sentisse tentado a experimentar os alimentos "prejudiciais". Para isso, formulou uma história que servia para explicar a doença. "Dizíamos que o Francisco tinha luzinhas na barriga, mas que uma das lâmpadas estava fundida, por isso não podia comer tudo." Hoje, a explicação das luzes já faz parte do passado, pois o Francisco já se familiarizou com todo o universo da fenilcetonúria.

Os seus produtos alimentares são guardados em armário exclusivo, para evitar confusões. Mas todas estas reservas são feitas em nome da saúde. "Os pais têm de viver com o conhecimento de que o desenvolvimento intelectual dos seus filhos depende, em grande parte, do modo como a dieta é gerida, ou seja, da qualidade do controlo dietético", afirma Carla Maria Carmona.

A educação alimentar de Francisco é em tudo semelhante à de Neuza Domingues Rosa, portadora de fenilcetonúria. Esta jovem de 24 anos lembra que a sua dieta sempre foi escrupulosamente respeitada, porque a família estava ciente de que um passo em falso podia comprometer o desenvolvimento de Neuza. "A minha mãe nunca brincou com a saúde", confirma.

Apesar da "convivência pacífica" com a doença, esta jovem sente que passou por alguns momentos de "crise". Nas festas de aniversário, para as quais era convidada, achava não ter motivos de festejo, porque toda a comida era "imprópria" para o seu consumo. "Acabei por recusar a participação em festas. Existem alturas na adolescência em que ficamos revoltadas e nos queremos esconder por causa das nossas diferenças", indica.

"Á medida que os contextos se alargam e se tornam menos protegidos, aumentam as exigências de um comportamento mais autónomo. O saber gerir a sua dieta fora de casa, a necessidade de explicar o porquê da diferença e responder a certas observações feitas pelos colegas, são grandes desafios colocados, por vezes a indivíduos muito jovens", sustenta a psicóloga.

A fase da adolescência é "um período de rápido desenvolvimento cognitivo, social e emocional e de mudança física". Estas alterações tendem a "ter um impacto, por vezes, dramático na gestão da doença" e, sobretudo, na adesão ao tratamento. "Ensinar aos jovens um modo de lidar confortável e assertivamente com a pressão dos pares e exigências sociais, e ainda assim aderir às exigências impostas pelo tratamento, é uma abordagem fundamental junto desta população, evitando que possam vir a negar ou negligenciar os seus cuidados de saúde e a criar um sentimento de diferença em relação aos seus pares", completa Carla Maria Carmona.

Neuza já passou esta fase, mas Francisco está quase a entrar na adolescência. O seu pai, Rui Barros, teme que "perante as solicitações e estímulos", o seu filho possa "cometer algumas asneiras alimentares". Mas, à medida que for sentindo as consequências, que se traduzem em maior irritabilidade, ou dificuldades de concentração, "volta novamente à regra".

Dieta para a vida

Carne, peixe, ovos, produtos lácteos. Eis alguns exemplos de produtos "proibidos" para os doentes fenilcetonúricos. "Todos os alimentos ricos em proteínas, seja de origem vegetal ou animal, têm de ser evitados", sublinha a nutricionista Berta Alves (vice-presidente da APOFEN). Então, o que podem estes doentes ingerir? "Para além do consumo de fruta, legumes, arroz e batata, existe uma série de produtos alternativos que contabilizam um baixo teor de fenilalanina e outros aminoácidos."
A aquisição de bens alimentares específicos para a fenilcetonúria foi, aliás, outra das batalhas ganhas pelo IGM. "No final dos anos 70, a dieta baseava-se em vegetais, frutas e gorduras, o que levantava alguns problemas de crescimento", diz Rui Vaz Osório. Através dos emigrantes portugueses, no início da década de 80, o IGM tomou conhecimento dos primeiros produtos dietéticos próprios para estes doentes e tentou fazer a importação directa.

"Pisamos o terreno da ilegalidade", recorda o médico, acrescentando que, à data, a entrada de bens alimentares criava problemas alfandegários. Mas o objectivo de Rui Vaz Osório era facilitar o acesso a estes géneros alimentícios para que os pais não tivessem custos acrescidos. O Prof. Jacinto Magalhães promoveu o lobby para conseguir uma comparticipação de 50%. E esta situação manteve-se inalterada durante cerca de 20 anos, até que, em 2004, o Estado decidiu apoiar integralmente a obtenção destes bens.

Estes alimentos, dos quais os doentes dependem 365 dias por ano, podem ser adquiridos - mediante receita médica passada por um especialista dos Centros de tratamento de referência - no IGM e sem qualquer custo associado. Como se trata de bens "especiais", os pais destas crianças e adolescentes necessitam de ser auxiliados, a fim de poderem tirar todo o partido dos produtos.

Foi com o objectivo de ajudar na confecção destes "novos" alimentos que surgiu a Escola de Cozinha e os Livros de Receitas. "Quando a criança começa a diversificar a alimentação, é preciso criatividade na cozinha. E, nesse aspecto, a Escola de Cozinha dá uma mãozinha." A iniciativa partiu da nutricionista do IGM, Manuela Almeida, há 15 anos. Mas, para ajudar os pais que residissem fora do Grande Porto, a APOFEN, que, entretanto, assumiu essa missão, já percorreu quatro das capitais de distrito, de norte a sul: Porto, Coimbra, Lisboa e Faro.

Nestas "aulas de culinária", os pais aprendem "pequenos truques" e até noções básicas de como trabalhar com uma balança digital. Pois, quando se fala em portadores de fenilcetonúria, tudo tem de ser pesado ao miligrama. Uma vez que o consumo de pão e das massas é controlado, os profissionais da Escola de Cozinha ensinam a preparar um pão "especial" com farinhas próprias para estes doentes.

No meio de receitas, há alguns segredos que Berta Alves desvenda. E, quem disse que não é possível fazer omeletas sem ovos, está redondamente enganado: "Com substituto de ovo (um pó com coloração amarela que, quando misturado em água ganha uma consistência e aspecto com a clara em castelo) fazemos uma adaptação às fórmulas gastronómicas tradicionais. Até bolos podemos confeccionar."
Primeiro medicamento para a fenilcetonúria

Em Dezembro de 2008, foi aprovado na Europa o primeiro e único medicamento para o tratamento da fenilcetonúria. A saptropterina (fórmula sintética do BH4, um co-factor responsável pelo funcionamento enzimático), comercializada pela Merck Serono, poderá possibilitar que os doentes de grau moderado tenham uma dieta mais aberta. Mas, explica Rui Barros, "dentro deste grupo de doentes, apenas 30% poderão ter uma resposta positiva ao BH4".


Rui Vaz Osório acrescenta que a saptopterina poderá "melhorar a metabolização da fenilalanina", em doentes com uma quantidade residual da enzima funcionante (PHA: fenilalanina hidroxilase). Este fármaco, apesar de "permitir uma alimentação menos restritiva, não substitui a dieta". Neste momento, o medicamento está em fase de aprovação pelo Ministério da Saúde e aguarda luz-verde para uma eventual comparticipação.

Dos EUA para o mundo

Graças à descoberta de Robert Guthrie, nos anos 60, o rastreio neo-natal é hoje realizado de modo sistemático a nível mundial. O pediatra norte-americano percebeu que "era possível colher gotas de sangue em papel de filtro e deixar secar", explica Rui Vaz Osório. Cortando a "pastilha" de sangue, poderia ser realizada uma análise a partir da amostra. "Este sistema veio revolucionar a colheita e o diagnóstico precoce", assegura este especialista.


Fonte: Jornal do Centro de Saúde

quarta-feira, 10 de junho de 2009

AS VÁRIAS FACES DA HEPATITE





Hepatites há-as causadas por bactérias e por vírus, mas também pelo álcool, por medicamentos e até pelo próprio sistema imunitário: mas, causas à parte, quem sofre é o fígado.





O fígado é a principal vítima das diversas hepatites: todas atacam este órgão complexo em que acontecem reacções químicas vitais para o organismo. Mas nem todas as hepatites são iguais - não só porque são causadas por diferentes agentes, como porque apresentam gravidades muito distintas, algumas ultrapassando-se apenas com repouso, outras implicando tratamentos prolongados ou mesmo um transplante. Casos há em que a vida está claramente em risco.



Doenças infecciosas, tanto podem ter na origem bactérias como vírus ou ainda o consumo de produtos tóxicos como o álcool mas também alguns medicamentos. E há ainda as hepatites auto-imunes, aquelas que resultam de uma perturbação do sistema imunitário, que começa a desenvolver anticorpos que atacam as células do fígado, em vez de as protegerem.


As mais comuns são, contudo, as virais, cujas seis faces até agora conhecidas a seguir se apresentam nos seus contornos essenciais.


A - Não se torna crónica

É mais frequente nos países menos desenvolvidos, tendo começado a diminuir em Portugal à medida que o saneamento básico se foi generalizado. Está associada a deficientes condições de higiene dado o seu modo principal de transmissão - através de água ou alimentos contaminados por dejectos.

As crianças e os adolescentes são mais vulneráveis, dado que o seu sistema imunitário não está ainda completamente desenvolvido. O vírus é absorvido no aparelho digestivo, multiplicando-se no fígado e inflamando-o.

Causada pelo vírus VBA, esta forma de hepatite é considerada uma doença aguda que se cura num curto espaço de tempo sem necessidade de internamento hospitalar ou de um tratamento específico. Repouso moderado e uma alimentação rica em calorias e pobre em gorduras é a forma de recuperar.

Em 90 por cento dos casos é assintomática, o mesmo é dizer que se manifesta sem sintomas específicos. Porém, eles existem - mal-estar, fadiga, náusea, vómitos, desconforto abdominal sob as costelas direitas, febre na fase inicial, urina muito escura, fezes descoradas, amarelecimento dos olhos.


Vinte a 40 dias é quanto o vírus leva a incubar, sendo que ao fim de três semanas, em regra, o doente já está recuperado. Normalmente, o vírus desaparece sem deixar vestígios, surgindo anticorpos protectores que impedem nova infecção. Raramente é fatal, embora em adultos afectados por uma doença hepática crónica - originada por outro vírus ou pelo consumo excessivo de álcool - possa provocar a falência do fígado, conhecida por hepatite fulminante. Contudo, o risco é muito baixo - de um para mil ou mesmo para 10 mil.

Contra o VHA existe uma vacina, descoberta em 1991, e que garante protecção por, pelo menos, dez anos. Desde Outubro último que pode ser administrada na farmácia, estando disponíveis várias apresentações da vacina - uma que oferece protecção apenas contra a hepatite A e outra combinada, que também protege contra a B. Uma terceira variante conjuga a imunização contra a hepatite A e a febre tifóide.


B - A mais perigosa

É causada pelo VHB, estimando-se que em Portugal existam cerca de 120 mil a 150 mil portadores crónicos. É de todas as hepatites a mais perigosa, dado o elevado grau de infecciosidade do vírus - 50 a 100 vezes mais do que o da sida.

É através do contacto com o sangue e os fluidos corporais de uma pessoas infectada que se transmite o vírus da hepatite B, à semelhança do que acontece com o da sida. Aliás, as duas doenças andam frequentemente de mãos dadas. Uma outra forma de contágio, também comum às duas doenças, é a transmissão de mãe para filho durante o parto. Nos países em desenvolvimento esta é, aliás, a forma mais grave de transmissão, com a maioria dos infectados a contrair o vírus durante a infância.

Já nos países industrializados, em que se inclui o nosso, o vírus é transmitido sobretudo aos jovens adultos por via sexual e através da partilha de seringas entre os utilizadores de drogas injectáveis.

Os diferentes cenários têm uma explicação: é que nos países desenvolvidos, as crianças são protegidas pela vacina, cuja eficácia é de 95 por cento. A vacina contra a hepatite B faz mesmo parte de 116 programas nacionais de vacinação, entre eles o português. É administrada em três doses, sendo também possível a vacinação na farmácia a maiores de 18 anos.

Na maioria das vezes, a infecção declara-se sem sintomas ou com queixas não específicas, como cansaço, desconforto abdominal sob as costelas direitas e dores nas articulações.


Num terço dos infectados, o vírus provoca hepatite aguda e um em cada mil pode ser vítima de hepatite fulminante. Em dez por cento dos casos, a doença torna-se crónica, uma situação mais frequente nos homens.




C - Ainda sem vacina

É conhecida como a "epidemia silenciosa" pela forma como o número de portadores crónicos tem aumentado em todo o mundo e pelo facto de os infectados poderem não apresentar qualquer sintoma, durante 10, 20 ou mesmo 30 anos, e sentir-se de perfeita saúde. Calcula-se que existam 170 milhões de portadores crónicos (cerca de três por cento da população mundial), dos quais nove milhões são europeus. Destes, entre 150 mil a 200 mil são portugueses, com Portugal a apresentar das mais altas taxas de contaminação pelo VHC. Embora seja um vírus que atinge 60 a 80 por cento dos toxicodependentes, todos os que foram submetidos a operações e/ou transfusões de sangue antes de 1992, os ex-combatentes e as mulheres que fizeram abortos devem fazer o rastreio.


Uma vez no organismo humano, este vírus pode levar até 150 dias a incubar, com a particularidade de, à semelhança do vírus da sida, ser capaz de se modificar e camuflar, o que dificulta uma resposta adequada do sistema imunitário. Só 25 a 30 por cento dos infectados apresentam sintomas da doença, os quais podem oscilar entre letargia, mal-estar geral e intestinal, febre, perda de apetite, intolerância ao álcool, icterícia e problemas de concentração. Muitas vezes são queixas muito parecidas com as de uma gripe.

Cerca de 20 por cento dos infectados recuperam espontaneamente, mas a maioria passa a sofrer de hepatite crónica. Destes, 20 por cento dos casos podem evoluir para cirrose ou cancro no fígado, uns em poucos anos, outros ao longo de décadas.


Esta é uma doença mais comum no sexo masculino e nos consumidores de álcool (que estimula a multiplicação do vírus e diminui as defesas imunitárias).

É principalmente por via sanguínea que se transmite o vírus da hepatite C - um corte ou uma pequena ferida é quanto basta, sendo frequente o contágio através da partilha de seringas. A transmissão por via sexual é rara, havendo ainda o risco de uma mãe infectar o filho durante o parto. Na ausência de uma vacina, o melhor é prevenir - deve, acima de tudo, evitar-se o contacto com sangue infectado, o que significa, por exemplo, não partilhar escovas de dentes, lâminas, tesouras, corta unhas ou outros objectos de uso pessoal.


D - À boleia da hepatite B

A inflamação do fígado causada pelo vírus VHD ocorre apenas em simultâneo com a acção de um outro vírus, o causador da hepatite B. O mesmo é dizer que a hepatite D só surge por co-infecção ou superinfecção, com 40 por cento dos portadores a desenvolverem cirrose.


Nos últimos anos, tem-se assistido nos países desenvolvidos a uma diminuição da hepatite D, que em Portugal é considerada rara. Transmite-se sobretudo a partir do sangue e seus derivados, bem como pelo contacto com seringas infectadas, o que explica a prevalência entre toxicodependentes e hemofílicos (que necessitam de transfusões dos factores sanguíneos em défice no seu organismo).

No caso de uma co-infecção (infecção simultânea pelos vírus B e D), a hepatite B pode ser severa ou mesmo fulminante, mas raramente evolui para uma forma crónica; a situação oposta ocorre com a superinfecção, que provoca hepatites crónicas em 80 por cento dos casos, dos quais 40 por cento acabam em cirrose.


E - Endémica nos trópicos

Em Portugal, como noutros países ditos industrializados, a infecção do fígado causada pelo vírus VHE é rara, mas nas regiões tropicais foi já responsável por graves epidemias.


Nas zonas em que é endémica, é de 33 por cento a taxa de mortalidade infantil causada pela hepatite E e de 20 por cento a taxa de mortalidade de mulheres grávidas, se contraírem o vírus no terceiro trimestre de gravidez.

Descoberta em 1980, incide sobretudo nos adultos entre os 15 e os 40 anos. Pode ser fulminante, mas quase sempre cura-se espontaneamente.


À falta de tratamento específico, devem evitar-se medicamentos que possam ser tóxicos para o fígado.


G - A mais jovem de todas

De facto, a hepatite G só foi descoberta em 1995, calculando-se que corresponda a 0,3 por cento das hepatites virais. Por ser recente, desconhecem-se ainda todas as formas de contágio possíveis, mas sabe-se que se transmite sobretudo por contacto sanguíneo - assim, poderão estar em risco nomeadamente as pessoas que partilham seringas e as que são sujeitas a transfusões de sangue.
Desconhecidas com exactidão são também as consequências de uma infecção pelo VHG, embora esteja já identificado que 90 a 100 por cento dos infectados se tornam portadores crónicos. Poderão, no entanto, nunca vir a sofrer de uma doença hepática.


Fonte: FARMÁCIA SAÚDE - ANF

terça-feira, 14 de abril de 2009

VITAMINA ELEMENTO INDISPENSÁVEL À VIDA




Dr. Walter Osswald






Foi no século XX que foram descobertas quase todas as vitaminas conhecidas e nele nasceu o próprio conceito de vitamina, ou seja, uma substância aminada indispensável à vida.








As vitaminas - aminas da vida - foram assim denominadas por Casimir Funck, um bioquímico Norte Americano, de origem polaca, quando verificou que os alimentos possuíam factores azotados indispensáveis à vida, tendo então criado o termo "Vitamina" para os designar.




A palavra "vita", em latim significa "vida", a palavra "amina" corresponde a "compostos orgânicos com azoto".





Mais tarde, descobriu-se que, nem todas possuem azoto, mas o termo já estava vulgarizado, pelo que ainda hoje se usa.





Mas, este novo século em que vivemos tem sujeito a maior crítica o entusiasmo com que os investigadores promoveram as vitaminas. Na realidade, dizem muitos, as aplicações terapêuticas das vitaminas são importantes mas dizem respeito a situações clínicas bem definidas, raras hoje em dia nas sociedades ocidentais: escorbuto, raquitismo, beri-beri, pelagra, etc. constituem entidades tão raras, que um clínico geral pode passar a vida sem se deparar com uma única situação destas.





E os críticos vão mais longe, quando se lhes faz notar que a raridade dessas situações se deve ao facto de administrar-mos vitaminas com fins profilácticos: respondem que sim, que é verdade, mas que uma alimentação equilibrada e variada fornece as vitaminas de que precisamos.





Ora, aí é que está o cerne da questão. Poucas pessoas conseguem ingerir diariamente os níveis de nutrientes adequados. Comemos demasiados alimentos pré-preparados e congelados, com muitos conservantes e corantes; fazemos muitas refeições do tipo fast-food; abusamos dos fritos, dos alimentos ricos em açúcar e com elevado teor em gordura, em detrimento dos frutos, vegetais e cereais.





Tal pode acontecer em qualquer idade, mas as crianças em fase de crescimento, as mulheres grávidas ou lactantes, os desportistas, os profissionais obrigados a esforço físico, os idosos com dietas monótonas ou pouco variadas, todas as pessoas que não comem quantidades suficientes de legumes e frutos beneficiam, certamente, da toma de suplementos vitamínicos equilibrados. A suplementação alimentar é uma ajuda preciosa na manutenção do nosso bem-estar, nomeadamente a título preventivo.





O prémio Nobel da Medicina e Fisiologia, descobridor da vitamina C, Szent Gyorgi, foi autor de um livro, enaltecendo as qualidades das vitaminas, e na primeira página escreveu o seguinte silogismo "Sem saúde não há felicidade; sem vitaminas não há saúde; logo, sem vitaminas não há felicidade."





O espírito treinado em lógica descobre neste silogismo um vício de forma, mas a verdade é que as vitaminas podem contribuir para a nossa saúde, condição básica sobre a qual se constrói a vida feliz.









Parece pois plenamente justificado lembrar que as vitaminas são, de facto, essenciais à vida e à saúde e que muito frequentemente a dieta que as pessoas realmente fazem não assegura o aporte recomendável destes princípios activos.









Dr. Walter Osswald,
Catedrático jubilado da Faculdade de Medicina
da Universidade do Porto (FMUP)












Fonte: Saúde em Revista

quinta-feira, 9 de abril de 2009

DOSSIER: ENURESE NOCTURNA



Joana Borges



A enurese nocturna afecta em Portugal cerca de 80.000 crianças entre os 5 e os 14 anos e cerca de 55 milhões em todo o mundo. A enurese não é uma doença, mas uma disfunção fisiológica e afecta a auto-estima da criança; A criança enurética nunca o faz de propósito ou por preguiça; A criança nunca deve ser culpabilizada ou punida; A enurese nocturna pode e deve ser tratada; Aos primeiros sintomas, os pais devem levar a criança ao médico de família ou pediatra.






O que é a enurese nocturna primária





A enurese nocturna primária é a emissão involuntária de urina durante o sono, depois dos 5 anos de idade.





Ser primária significa que a criança nunca deixou de fazer chichi na cama. Embora seja frequente pensar-se que a enurese nocturna se resolve com o tempo, o seu não tratamento afecta a auto-estima e socialização da criança. Tal pode provocar efeitos adversos no desenvolvimento harmonioso da criança e causar problemas psicológicos para toda a vida.





Por isso deve ser proporcionado um tratamento pronto e efectivo, prevenindo assim o sofrimento durante a infância, adolescência ou até mesmo na idade adulta. Contudo, apenas cerca de um terço das famílias com casos de enurese consulta o médico. Em estudos que avaliaram a auto-estima de crianças enuréticas, antes e depois do tratamento, foi demonstrado que o pronto tratamento pode restaurar a autoconfiança.









Dados estatísticos





• A enurese nocturna primária é a seguir às afecções alérgicas, a disfunção física com maior incidência na infância;





• Em Portugal, existem aproximadamente 80.000 crianças enuréticas: 15% com 5 anos, 10% com 10 anos e 0,5 a 1% dos jovens adolescentes. Isto significa que numa turma do Ensino Primário com aproximadamente 30 crianças, 5 sofrem de episódios de chichi na cama - enurese.





• Esta disfunção afecta cerca de 10% das crianças com 7 anos de idade, e é mais comum nos rapazes do que nas raparigas;





• Aproximadamente 70% das crianças com enurese nocturna, nunca chega a receber qualquer apoio médico. No entanto, existem medidas simples que ajudam a criança a ultrapassar esta perturbação.









International Children's Continence Society (ICCS)





A International Children's Continence Society publicou recentemente uma estratégia para gerir a enurese nocturna. A estratégia aborda a situação actual da enurese nocturna a nível mundial, em termos clínicos, psicológicos e sociais, e focando ao mesmo tempo as soluções para a problemática.





A ICCS reconhece que a consciência para o problema da enurese nocturna é ainda muito reduzida, sendo por isso uma prioridade aumentar a notoriedade da mesma. A estratégia da ICCS tem assim como principais objectivos:


• Proporcionar uma vida mais suportável para as crianças e sua família;


• Reduzir o tempo de enurese nocturna durante a vida.









Os sintomas de alerta





O facto de a criança entrar para a escola e continuar a fazer chichi na cama, com intervalos inferiores a seis meses, deve ser encarado como um sintoma de alerta. Mas, em geral, as crianças enuréticas molham a cama mais do que uma vez por noite.





Existem também casos a ter em atenção, como o nascimento de um irmão ou o divórcio dos pais, causas que podem provocar temporariamente episódios de enurese na criança, normalmente denominados como enurese secundária.



As causas





Hereditariedade






Os pais devem ter em atenção que esta disfunção tem uma grande prevalência hereditária. Assim, existe um índice de 44% de ocorrência de enurese nocturna se um dos pais foi enurético, e de 77% se ambos (pai e mãe) tiverem sido enuréticos.





Está também provado que uma criança que é precedida por duas gerações com enurese nocturna tem um atraso de ano e meio no controlo nocturno da bexiga. Actualmente, foram já descobertos os cromossomas -12q e 13q- que podem predispor geneticamente as crianças a desenvolver a enurese nocturna.






Fisiológica





Mas a causa fisiológica mais comum é uma deficiência na produção nocturna de uma hormona antidiurética chamada vasopressina. Esta hormona regula a produção de urina durante as 24 horas do dia, existindo uma maior produção desta hormona durante a noite para, deste modo, reduzir o volume de urina. No caso da maioria das crianças enuréticas, e segundo alguns investigadores dinamarqueses, existe uma deficiência na produção nocturna da vassopressina.









Psicológica





Quando a criança se apercebe que pelo facto de fazer chichi na cama, recebe mais atenção dos pais. Esta situação normalmente acontece quando nasce um irmão no seio da família.





Cerca de 30% das crianças com enurese nocturna revelam problemas psicológicos: ansiedade, depressão, baixa auto-estima, delinquência, comportamento agressivo. Estes evoluem positivamente quando o problema da enurese nocturna se soluciona.












Problemas sociais





Para além de um constrangimento para os pais, esta disfunção é, essencialmente, uma grande humilhação para a criança, podendo vir a afectar fortemente a sua auto-estima e socialização.





A criança enurética tem vergonha de fazer chichi na cama e quer esconder este problema. Daí que tudo o que implique passar a noite fora de casa seja um grande problema. Isto também vai afectar a vida social da criança, que se vai mostrar apreensiva à ideia de ir dormir a casa de um familiar, de um amigo ou de participar num acampamento.





Por outro lado, estes meninos pensam que são os únicos que ainda fazem chichi na cama, o que os faz sentir diminuídos perante as outras crianças da sua idade, criando um quadro de infelicidade. Logo, a criança enurética pode vir a sofrer graves problemas de auto-estima e auto-confiança, sendo muitas das vezes alvo de "gozo" por parte dos seus colegas.









Conselhos para os pais





É importante lembrar que a culpa não é da criança, nem dos pais. Ficar zangado ou castigar a criança apenas vai agravar a situação. Apoiar ou incentivar os esforços dos enuréticos em manterem-se secos ajuda realmente a superar o problema. Procurar alguma ajuda acelera o processo, poupando o sofrimento e a angústia da família.





Embora a enurese nocturna tenda a passar naturalmente com a idade, o primeiro passo que os pais têm de dar é levar a criança ao seu médico de família ou pediatra, para despistar a "doença" e conhecer as causas da mesma. Pode dar-se o caso de a criança sofrer de outros problemas que não sejam identificados como sendo enurese nocturna, nomeadamente infecções urinárias, que requerem tratamento especializado e adequado.






Os pais, para além de levarem as crianças ao médico, devem:





• Não pune ou menospreze o seu filho. A enurese nocturna não está sob o seu controlo. Culpabilizar não ajuda nada. De facto, só servirá mesmo para aumentar a vergonha;





• Diga ao seu filho que o ama, e que compreende os seus sentimentos;





• Relembre o seu filho que a culpa da enurese nocturna não é dele;





• Limpe tudo rapidamente sem grande confusão. Encoraje o seu filho a ajudá-lo a mudar de pijama e a refazer a cama;




• Fale com o seu filho acerca de enurese nocturna. Dê-lhe uma explicação do que se passa;





• Se teve enurese nocturna quando foi criança, partilhe a sua experiência, pois isso é muito importante para a criança;





• Fale com o médico sobre o problema do seu filho, pois ele certamente com a sua experiência e sugestões irá ajudá-lo.




Conselhos para as crianças





• Certifique-se que foi à casa-de-banho antes de ir para a cama. Se não se recordar que foi à casa de banho, faça deste acção um hábito frequente;





• Peça aos seus pais ajuda para cortar com os 3 C's: cafeína, bebidas com hidratos de carbono (como Coca-Cola), e chocolates;





• Não beber demasiados líquidos durante a noite. Uma bebida durante o jantar e nada mais depois, ajudará certamente o seu corpo de produzir demasiada urina durante a noite;





• Não fique envergonhado por falar em enurese nocturna com o seu médico. Você não está sozinho, pois muitas crianças molham a cama também.









Como tratar o problema





Depois de se eliminar a hipótese da bexiga ser a causa do problema, existem terapias e medicamentos eficazes que a podem tratar.






Terapia com alarme


Este tratamento consiste em duas peças que são colocadas na cama e quando a criança começa a fazer chichi, o contacto da urina com a coberta faz soar o mesmo. Ao fim de algumas semanas, a criança vai acordar sozinha quando sentir a bexiga cheia. No entanto, estudos recentes questionam este método porque requer uma grande compreensão e disponibilidade dos pais.






Desmopressina


Trata-se de um análogo sintético da hormona antidiurética que aumenta a concentração de urina e diminuiu o volume urinário, sem efeitos secundários e com uma prolongada acção. Este é o tratamento mais receitado pelos médicos e em muitos casos consegue eliminar o problema em poucos meses.






Terapia motivacional


A abordagem do tratamento da enurese nocturna é feita em reuniões onde toda a família deve estar envolvida. O objectivo destas sessões é encorajar a criança a assumir a responsabilidade do problema e ensinar a família a lidar a ultrapassá-lo. Adoptar um papel activo e uma atitude positiva perante a enurese nocturna do seu filho, contribuirá para o êxito da terapia.









Onde obter uma consulta de enurese nocturna?





HOSPITAIS ZONA NORTE
• Barcelos
• Braga
• Coimbra
• Covilhã
• Guimarães
• Matosinhos
• Oliveira de Azeméis
• Paredes
• Porto
• Póvoa do Varzim
• Sta. Maria da Feira
• Vila Nova de Gaia



HOSPITAIS ZONA SUL
• Abrantes
• Almada
• Amadora
• Leiria
• Lisboa
• Santarém
• Tomar
• Torres Novas
• Torres Vedras







Fonte: BEST NEWS

terça-feira, 16 de setembro de 2008

PARA QUANDO A PRIMEIRA CONSULTA NO GINECOLOGISTA?



Andreia Pereira


Com a chegada da puberdade, tudo muda. O corpo ganha forma e a cabeça enche-se de dúvidas. É nesta fase que os jovens procuram obter respostas às alterações do corpo. Será a altura de substituir o pediatra pelo ginecologista?





Existe uma idade ideal para procurar um ginecologista? Esta poderá ser uma das questões mais levantadas pelas jovens adolescentes. Embora não haja uma "hora certa", o Prof. Martinez de Oliveira, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG) diz que "numa perspectiva preventiva, a primeira consulta deve ter lugar antes de qualquer situação de risco". Acontece que "raramente isto sucede por motivos educacionais", explica.




Para que haja uma detecção precoce de eventuais complicações, "a primeira observação ginecológica seria, tecnicamente, aconselhável por volta dos 10 anos", afirma o especialista. Mas ressalva que uma consulta nesta idade não é facilmente aceite, "tendo em conta a baixa frequência de problemas nesta altura" e a necessidade de uma abordagem diferente.




As irregularidades menstruais, acompanhadas de dores, são um dos motivos mais comuns que conduzem à primeira consulta no ginecologista. Embora, "cada vez mais, se vejam jovens que procuram o especialista por razões de aconselhamento e exame de rotina, após a primeira relação sexual".









Mudam-se os tempos, mudam-se as atitudes




Se há uns anos, a consulta no ginecologista era encarada com algum pudor e vergonha, hoje em dia, tem-se assistido a uma mudança de postura. "Antigamente, as jovens dirigiam-se à consulta para solicitar ajuda contraceptiva, mas através de outros sintomas, como as dores menstruais. Actualmente, pede-se ajuda directamente sobre contracepção ou solicita-se informação sobre temas de sexualidade, que, dificilmente, são abordados em casa, pelos pais."




Nos dias que correm, a acessibilidade e a divulgação facilitam a consulta, sem receios, nem tabus. "Esta percepção está muito dependente de factores culturais e do perfil educacional ou religioso", justifica Martinez de Oliveira. As jovens "já não se sentem ‘agredidas' na sua privacidade" aquando do exame, embora revelem algum "pudor".




Há, ainda, alguns mitos associados à consulta no ginecologista, mas, garante o especialista, "não serão tão perceptíveis como outrora". O receio de sentir dor, relacionada com o exame, e a exposição do corpo são aqueles que mais frequentemente estão associados à visita do ginecologista.




O especialista desmistifica, no entanto, estas ideias erradas, salientando que "um exame ginecológico, realizado com tranquilidade e sem desconforto, é o primeiro passo para um observação regular e descontraída". Estes exames são "fundamentais para o rastreio de situações clínicas que possam ocorrer".




Normalmente, as mães dão um "empurrãozinho" às jovens, alertando-as para a necessidade de recorrerem à primeira consulta e até acompanhando-as, quando existem eventuais problemas. Mas, tratando-se de uma situação de aconselhamento, a jovem "prefere ir sozinha", já que "naturalmente a presença da mãe impõe alguma limitação ou adaptação na abordagem dos temas da sexualidade".



Consulta sem mistérios




Pode parecer um bicho-de-sete-cabeças, mas, na prática, não há mistério nenhum na visita ao ginecologia. E, afinal, como se processa esta consulta? "Atendendo à perspectiva que motiva a consulta, a idade e a vivência sexual, o médico presta aconselhamento, rastreio (componente preventiva) e a identificação ou correcção de problemas."




Claro está que os procedimentos são adaptados à idade da jovem. "Tratando-se de um exame a uma criança, antes da menarca [aparecimento do ciclo menstrual], o material utilizado vai depender, naturalmente, do objectivo da consulta e das condições físico-corporais." Este exame físico (mamário e ginecológico) "é fundamental na detecção de problemas, como, ainda, na criação de empatia entre a jovem e o seu médico".




Para marcação da primeira consulta, as jovens podem optar pelo sistema público ou privado, consoante a disponibilidade financeira. No primeiro caso, para além do especialista, as jovens podem recorrer às consultas de Planeamento Familiar, geridas por médicos de Família.








Razões que motivam a primeira consulta ginecológica de jovens:




- Identificação de dificuldades relacionadas com anomalias que impedem o normal fluxo menstrual;




- Esclarecimento de dúvidas ou resolução de problemas conotados com a prática sexual;




- Prestação de informações que apontem no sentido de uma prevenção da gravidez não desejada e das infecções sexualmente transmissíveis.


Fonte: Jornal do centro de Saúde